terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

A culpa é da PM

Que ninguém se iluda: as polícias militares são responsáveis diretas por esses espetáculos de selvageria que ocorrem amiúde nos estádios de futebol e cercanias.
Culpar apenas os “maus torcedores” é uma simplificação tautológica: assassinatos existem porque há assassinos, roubos porque há ladrões. Nos fundamentos do estado de Direito repousa a presunção de que sempre haverá malfeitores e vítimas. As instituições públicas existem para garantir segurança a seus contribuintes, sejam estes ameaçados por lagartos gigantes, idiotas carecas ou cretinos fardados portando armas e escudos.
Uma simples briga já demonstra o fracasso das polícias em cumprir seus deveres constitucionais. Ocorre porém que, em noventa por cento dos casos, as tragédias começam com algum gesto de estupidez dos próprios policiais.
Eles avançam cavalos sobre multidões encurraladas, distribuem cacetadas, tiros, bombas e esguichos de pimenta, esbanjam suas másculas autoridades para humilhar incautos. O planejamento geral é patético; inexiste real controle de tráfego ou fiscalização em estações de metrô, pontos de ônibus e vias importantes; as vistorias em torcedores, veículos e acomodações são ridiculamente inúteis; o tratamento ao público é fascista; o despreparo da soldadesca é generalizado.
Sim, a esmagadora maioria das vítimas desses sincofantas é formada por torcedores inocentes, pacíficos, contribuintes em dia com suas obrigações. E sim, eles têm direito de frequentar estádios, em qualquer horário, vestidos como bem entenderem, e ainda exigir que as autoridades cumpram seu papel (que, aliás, não é tão difícil assim).
A grande imprensa faz vistas grossas para essa realidade. Prefere o cômodo refúgio estatal de culpar os “maus torcedores” e propor medidas autoritárias, como a realização de jogos com apenas uma torcida. Claro, a PM adoraria não ter de trabalhar; eu também. Acontece que inventar um vilão genérico e coletivo é mais seguro do que dizer, por exemplo, que José Serra fracassou em suas atribuições. Aí não pode, né? “Vamos falar de futebol”, alguém logo propõe.
Duvido que alguma vez na vida esses comentaristas cheios de vaticínios definitivos tenham se espremido junto às hordas desesperadas. Sugiro que, antes de defenderem “nossos bravos soldados”, eles desçam de suas cabines refrigeradas para sorver um pouco da dura realidade.

3 comentários:

Anônimo disse...

OBRIGADO Guilherme,passo a palavra,voçê falou por nós.

Anônimo disse...

Muito Bom.

!!@v@nte Camarada!!

Unknown disse...

até que enfim, achei que fosse voz única nesse caso. Assino embaixo todos os seus comentários...