segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

“A privataria tucana”



A leitura é envolvente, menos confusa do que sugere o novelo de tramóias financeiras, empresas e personagens. Lamento apenas que o autor às vezes escorregue por um estilo informal demais, recorrendo a gírias e exclamações que o afastam da sisuda reportagem que o tema exigia. Repetições ociosas e alguns erros vocabulares poderiam também ser corrigidos em edições futuras.

A documentação apresentada é sólida. Há lacunas, mas elas são daquele tipo que nunca seria preenchido por uma investigação realizada sem o aporte de instituições policiais e judiciárias (talvez nem assim). A maioria das ilações, porém, corresponde a um primário bom-senso e resultam críveis, para não dizer óbvias.

É ridículo minimizá-las com a alegação de serem “requentadas” ou inconclusas. As coincidências entre a dilapidação do patrimônio estatal brasileiro e os valores exorbitantes movimentados por empresas de gente ligada ao processo deveriam suscitar avassaladoras mobilizações da imprensa, do Ministério Público e do Congresso Nacional. Apenas as atividades conhecidas e registradas da filha, do genro, do primo e de amigos próximos de José Serra bastam para enterrar sua carreira política e sujeitá-lo a uma devassa implacável.

Tudo isso aconteceria se o caso envolvesse uma liderança petista. Coisa muito pior ocorreu, até com inocentes, nos afamados escândalos dos governos Lula e Dilma. Amaury Ribeiro Jr realizou o mínimo que se espera de um jornalista responsável: ele apenas compilou informações que, embora sempre estivessem disponíveis, foram solenemente ignoradas pela grande imprensa. Agora basta que as autoridades sigam os elos e busquem respostas às muitas indagações levantadas.

2 comentários:

Vania disse...

Gostei muito do seu comentário sobre o livro. Também adorei a leitura. Que me custou várias noites de sono e imensa angústia. Espero que tudo isso seja muito bem esclarecido e devidamente punido. Pelo bem de todos nós, que somos realmente brasileiros. Um abraço.

Regina disse...

Li, e por mais antipatia que nutra por tucanos em geral e pelo PSDB em particular, fiquei chocada com tanta desfaçatez. Como podem, homens públicos, emporcalhar suas biografias, por menos limpas que pudessem ser, daquela maneira? Se não por respeito ao povo, porque isso nunca tiveram, mas por respeito a si mesmos. Como podem não ter medo de que tudo venha a ser descoberto?
Estou desanimada com seres humanos, mas não o bastante para deixar de fazer a minha parte para que isso mude.