segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

A maldição de Rosemary
















Inquérito recém-nascido, personagens caricaturados, violações de privacidade, fariseus babando regras morais: já vimos esse filme tantas vezes que podemos antever seus desdobramentos. O noticiário gastará o tema até o limite da idiotia, alimentado por informantes obscuros e “apurações” de bastidores. A Veja excretará falsas entrevistas e difamações, que a imprensa dita “séria” reproduzirá como se tivessem mínima credibilidade. Propagadores involuntários desses veículos, alguns blogueiros progressistas contribuirão para legitimar fofocas e imbecilidades.

As mentiras receberão desculpas e correções discretas, num futuro longínquo, mas os prejuízos causados a inocentes restarão impunes e irremediáveis. Alguém talvez encontre um conveniente uso do foro privilegiado para que o STF desempenhe de novo seu teatro saneador de mão única.

No final, pouco importará se a administração demotucana de São Paulo perpetua milhares de cargos políticos e esquemas de apadrinhamento semelhantes aos orquestrados por Rosemary Noronha, ou ainda mais obscuros e lesivos do que eles. Pouco importará, aliás, discutir uma rotina da vida política brasileira característica até dos menores municípios. A questão é transformá-la em marca exclusiva do PT, como o chamado “mensalão” e outras novidades que há uma década ninguém ousava enxergar, por exemplo, nos lídimos e transparentes governos FHC.

Depois das bebedeiras e da ameaça de violência sexual, Lula agora recebe a pecha de adúltero safado. Esse tipo de baixaria não o atinge por acaso. É a reprodução de uma imagem vulgar que o preconceito elitista associa à própria gentalha que forma a sua base eleitoral. E é vulgaridade conveniente a salas de espera e balcões de botequim, onde qualquer sinal de astúcia pode insinuar perigosas ambigüidades estadistas à figura do tosco líder operário.

Mas convém desconfiar da versão de que o núcleo do governo foi pego de surpresa com a iniciativa “secreta” da Polícia Federal. O desabamento do esquema de Rosemary Noronha teve beneficiários no próprio PT, para não citar uma administração preocupada com sua imagem pública e lideranças empenhadas em estabelecer rupturas com as redes de influência herdadas da era Lula. Ademais, Dilma e o ministro José Eduardo Cardozo não se encaixam com facilidade na fantasia de mandatários que perdem o controle dos subordinados. Acontece que a indicação de sagacidade proibida a Lula, no caso da sua sucessora, periga denotar lisura e respeito pelas instituições.

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