sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

“A hora mais escura”























A armadilha é condenar a obra por não tomar posição militante contra a tortura, como se qualquer artista fosse obrigado a inserir subtextos didáticos e rostinhos chocados para mostrar o que pensa, ou, pior, o que a platéia deve pensar.

Mas existem ponderações necessárias. O filme se coloca num meio-termo entre o ficcional e o informativo, aproveitando as estratégias narrativas de ambos os registros. Permeando clichês de gênero e especulações factuais sobre o suposto assassinato de Osama bin Laden, estabelece um discurso levemente autoritário, já que não pode ser questionado: a farsa justifica os deslizes da reportagem e vice-versa.

O torturador com boas intenções, a espiã bonita e aplicada, os soldados simpáticos e competentes, o patriotismo, a vitimização e até a natureza das torturas fazem parte do mesmo pacote de verossimilhança e empatia. Jane Mayer apontou com precisão que essa estratégia carrega falácias tão graves sobre as técnicas de interrogatório aplicadas pelos EUA que o filme acaba concedendo-lhes um tratamento quase apologético.

Não ajuda, portanto, vender o filme apenas como entretenimento ligeiro, ou sequer como reflexão geopolítica distanciada. Seu tom propagandístico é tão evidente quanto seria o de um longa “expositivo” detalhando os bastidores do 11/9, cujos personagens árabes, sagazes e intrépidos, justificassem a vingança lembrando os “milhares de civis inocentes” mortos pelos EUA.

Tudo isso posto, é produção desigual. Primeira metade longa demais, explicações insuficientes, um clímax abrupto. Personagens frouxos, apesar do elenco célebre. E algumas qualidades técnicas (especialmente a montagem) que apenas confirmam o talento de Kathryn Bigelow para tramas de ação.

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