segunda-feira, 25 de março de 2013

Mídia sem alternativa















Todos no ramo sabem que a precarização do trabalho do jornalista é disseminada, mesmo nos veículos de grande porte. Nas melhores hipóteses, os profissionais, especialmente os jovens, são obrigados a constituir “pessoas jurídicas”, firmando contratos que atropelam a legislação trabalhista. Nas piores circunstâncias, eles sofrem prejuízos e violações de direitos, submetendo-se para sobreviver num mercado cuja saturação desestimula rebeldias.

Essa realidade, corriqueira em muitos ramos empresariais, tem sido tolerada pelo Ministério Público e pelas instâncias específicas do Judiciário, tão combativas em situações menos incontroversas. Que o discurso legalista de certos órgãos informativos conviva com práticas amorais nas suas relações de trabalho apenas contribui para o anedotário do farisaísmo que domina a mídia corporativa.

As dificuldades financeiras da Caros Amigos são antigas e têm particularidades legais e administrativas que desaconselham juízos afoitos. O mesmo vale para as demissões na revista. O aspecto alarmante do episódio, no entanto, é a omissão da esquerda institucionalizada perante a crescente agonia dos veículos alternativos impressos.

Talvez o governo Dilma pudesse aprimorar o projeto de descentralização dos investimentos publicitários federais, colocando freios na influência da bancada midiática do Congresso e ignorando as críticas ao suposto dirigismo petista, que, afinal, visam justamente preservar o poder das empresas hegemônicas. Mas também as administrações estaduais e municipais da vasta base supostamente “aliada” possuem meios para incentivar as publicações desprezadas pelo capital privado. Não lhes faltariam justificativas éticas, republicanas, educativas e até filosóficas para o gesto.

Falta-lhes, sim, compreender o caráter estratégico do problema, inclusive (mas não apenas) sob o aspecto do pragmatismo eleitoral. As lideranças progressistas das mais diversas áreas de atuação precisam debater o assunto e orquestrar movimentos para impedir o triunfo do monopólio conservador na imprensa brasileira. Apresentando novas fontes de recursos, estratégias de divulgação, campanhas para assinaturas, eventos especiais, parcerias e permutas. Ficar lamentando o destino de hipotéticos marcos regulatórios só ajuda a evitar o verdadeiro problema.

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