quarta-feira, 24 de abril de 2013

Venezuela imaginária















As bobagens proferidas na imprensa corporativa sobre a Venezuela têm fornecido material para décadas de pesquisas acadêmicas alinhadas a todas as metodologias disponíveis. Já é possível até reconhecer o veículo de predileção do interlocutor pelo discurso que este reverbera nas conversas informais.

Chegamos a um estágio de manipulação que desestimula o próprio uso do noticiário como fonte de conhecimento sobre a situação atual no país. À distância, simplesmente não dispomos de informações confiáveis, e corremos o risco de reproduzir modelos argumentativos falsos mesmo quando precisamos contrapô-los.

Mas os números disponíveis são suficientes para iluminar algumas deturpações. A “surpresa” perante a votação do candidato oposicionista, por exemplo, inaugura a incrível modalidade das expectativas isentas de qualquer respaldo estatístico.

Os adversários do chavismo sempre atingiram marcas próximas aos 40%, chegando a 45% na última vitória de Hugo Chávez. Conquistar novos 4% do conjunto dos eleitores, numa disputa marcada pela ausência do maior personagem político do país, não chega a representar uma arrancada sensacional. Alguém poderia até interpretar o resultado como vitória simbólica do chavismo, dadas as circunstâncias desfavoráveis.

Os aguerridos conservadores brasileiros esbanjaram sagacidade, no entanto, quando apoiaram a recontagem dos votos venezuelanos. Porque ela é viável na ditatorial Venezuela, onde a maioria das urnas eletrônicas produz um recibo impresso para eventuais conferências. No democrático sistema brasileiro, esse luxo seria impossível.

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