segunda-feira, 26 de maio de 2014

A tumba dos pedágios paulistas






















O pedido da CPI dos Pedágios esperou três anos na fila da Assembléia Legislativa de São Paulo. O governo Geraldo Alckmin e seus asseclas recorreram às mais ridículas manobras para postergar a votação. Agora passou.

Vai dar em nada? Provavelmente.

Primeiro porque o objetivo da comissão se restringe a “investigar se os valores das tarifas cobrados pelas concessionárias nas rodovias paulistas estão em consonância com os critérios definidos nos editais de licitação, propostas e contratos firmados e com a lei federal que rege as concessões de obras e serviços públicos”.

Ora, até eu, que sou bobo, redijo “editais, propostas e contratos” permitindo a cobrança de qualquer valor, por mais abusivo que seja. Houve real concorrência nos leilões? Os valores cobrados são justificáveis? As concessionárias têm participação nas empresas que lhes fornecem matérias-primas e serviços? Como eles são contratados? As verdadeiras perguntas sobre o tema escapam à abrangência um tanto simplória da CPI.

O segundo motivo para pessimismo advém da presença maciça de tucanos e aliados na composição da mesa. O presidente da comissão é, pasmem, Bruno Covas. Que só foi eleito ao cargo porque a maioria dos deputados pertence à base governista. Nessas condições é quase impossível se aprovar um relatório digno.

Terceiro: a CPI tende a se transformar numa espécie de segredo midiático. Ao contrário do que ocorre, por exemplo, com o factóide Pasadena, a imprensa corporativa não gastará o menor perdigoto para divulgar os trabalhos, principalmente ao longo da Copa do Mundo, que deverá interrompê-los. O recente esforço da Folha de São Paulo em caracterizar a administração Alckmin como vítima das concessionárias anuncia o viés futuro do noticiário. Na pior das hipóteses, tudo será culpa de Cláudio Lembo.

Um bom começo para averiguação, aliás, é essa jogada marqueteira do governo, “cobrando” valores pagos indevidamente aos cartéis da dinheirama. Vinte anos depois de iniciada a farra, sob longo e insistente clamor público, só agora Alckmin decidiu vestir a fantasia de justiceiro. Mas de onde o governo retirou a convicção de que existe algo errado nos contratos, se os trabalhos da CPI sequer foram iniciados? E por que não agiram antes?

Se os nobres deputados conseguirem responder a essas duas singelas perguntas, já não teremos o desperdício total de mais uma oportunidade para derrubar o esquema dos pedágios mais caros do país. E tem cara de ser a última.

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