segunda-feira, 17 de agosto de 2015

O desfile do orgulho reacionário
















É quase impossível extrair informações confiáveis sobre as manifestações na imprensa corporativa. Claro, ela inventou a festa, agora quer inventar os significados da festa. Mas a tentativa de moldar os fatos chega a soar um tanto ridícula.

Os cálculos esdrúxulos (sete pessoas por metro quadrado!) não escondem dois fatos visíveis: a) os protestos encolheram e b) mantiveram a mesma composição étnico-social dos anteriores. Novamente, basta assistir às imagens disponíveis.

Em março e abril já havia certa sensação de “muito barulho por nada”, mas agora ela domina a memória das passeatas, feito ressaca de vinho ruim. Com aparato midiático dessa envergadura, até a adesão exagerada pelos oposicionistas parece frustrante. Se as marchas fossem um produto, considerando o preço e a extensão dos seus anúncios noticiosos, ele teria o pior custo-benefício per capta da publicidade universal.

Algo que me intriga no comportamento da coxinhada é o contraste entre o clima brincalhão e o teor horripilante dos cartazes e faixas empunhados. Ninguém dá muita bola para estar fazendo propaganda fascista. Os discursos parecem menos importantes do que o prazer de exibi-los com criatividade, como em certos eventos populares que representam mortos e assombrações.

Os protestos vão se estabelecendo como festas públicas do conservadorismo, onde os adeptos da nova moda podem sair do armário e soltar as frangas sem o patrulhamento do bom senso e da responsabilidade histórica. Com o gradativo esvaziamento da agenda golpista, talvez este seja o prêmio de consolação das suas viúvas: passar vergonha na frente dos outros uma vez por ano.

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