Drama familiar realizado com a delicadeza e o
despojamento estilístico usuais na obra de Anna Muylaert. Auxiliada por um
ótimo elenco feminino (revelado em filmes brasileiros recentes), a atuação fabulosa
de Regina Casé chega a ofuscar, ou a tornar palatáveis, os temas espinhosos do
enredo.
O roteiro não é esquemático nem panfletário, como
afirmam certos críticos preguiçosos. Os personagens e as situações têm a ambivalência
necessária, mas ela se apresenta com uma sutileza que escapa às sensibilidades
condicionadas pelo maniqueísmo vigente. É a verossimilhança dos tipos humanos
que incomoda, a falta de ricos vilões e pobres inocentes que aliviem a
identificação das platéias burguesas com seus simulacros.
O subtexto político aproxima o filme de alguns
trabalhos bem sucedidos na reflexão sobre o país transformado pelos governos
Lula. Muylaert rende homenagem clara a “O som ao redor” (Kleber Mendonça Filho,
2012), mas também há um diálogo forte com “Casa Grande” (Felipe Barbosa, 2014).
A marca dessa filmografia politizada é refletir
sobre as relações sociais urbanas a partir de um ambiente conflituoso,
angustiante, que parece insolúvel e sempre à beira da explosão. Focada no
ressentimento de classe, expõe o Brasil atual com a eficácia de muitos
trabalhos acadêmicos.
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