sexta-feira, 25 de setembro de 2015

“Que horas ela volta?”

 




















Drama familiar realizado com a delicadeza e o despojamento estilístico usuais na obra de Anna Muylaert. Auxiliada por um ótimo elenco feminino (revelado em filmes brasileiros recentes), a atuação fabulosa de Regina Casé chega a ofuscar, ou a tornar palatáveis, os temas espinhosos do enredo.

O roteiro não é esquemático nem panfletário, como afirmam certos críticos preguiçosos. Os personagens e as situações têm a ambivalência necessária, mas ela se apresenta com uma sutileza que escapa às sensibilidades condicionadas pelo maniqueísmo vigente. É a verossimilhança dos tipos humanos que incomoda, a falta de ricos vilões e pobres inocentes que aliviem a identificação das platéias burguesas com seus simulacros.

O subtexto político aproxima o filme de alguns trabalhos bem sucedidos na reflexão sobre o país transformado pelos governos Lula. Muylaert rende homenagem clara a “O som ao redor” (Kleber Mendonça Filho, 2012), mas também há um diálogo forte com “Casa Grande” (Felipe Barbosa, 2014).

A marca dessa filmografia politizada é refletir sobre as relações sociais urbanas a partir de um ambiente conflituoso, angustiante, que parece insolúvel e sempre à beira da explosão. Focada no ressentimento de classe, expõe o Brasil atual com a eficácia de muitos trabalhos acadêmicos.

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