segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Os Pilatos da esquerda brasileira



















Ocorre algo estranho com certas análises de conjuntura alinhadas ao repertório progressista. Elaboram argumentos refinados sobre a crise política, fazem balanços críticos de um lado a outro, lamentam o fracasso da administração Dilma Rousseff e defendem utopias pós-modernas bacanas. A questão é que jamais denunciam de maneira clara e direta o projeto do impeachment.

Compreendo que os autores tentem se esquivar da tenebrosa pecha de petistas. Mas a maneira como o fazem dá a impressão de que, no fundo de suas boas almas acadêmicas, borbulha o mesmo antipetismo hidrófobo dos brucutus de camiseta amarela.

Pesquisando os repertórios da turma, vemos que a maioria apoiou Marina Silva nas eleições passadas. E, com algum motivo (mas também exagerando provincianamente o fato), odeiam a desconstrução que a candidata sofreu na disputa. Isso explica o ar blasé com que tratam a ameaça do golpe: “bem feito, Dilma, agora toma”.

O comportamento aparece em vastos setores da esquerda, principalmente no PSB e na própria Marina. Todos parecem aceitar que suspeitos de bandidagem, paus-mandados de coronéis e oportunistas filisteus derrubem uma presidente honesta porque ela manobrou recursos para manter programas sociais. Sem prejuízo final para o erário.

Sim, estão “preocupados”, continuam “democratas”, querem “justiça”. Convenhamos, porém, que tais pruridos são bastante modestos para gente que se diz libertária e que vive denunciando o pragmatismo conservador do PT.

Talvez respondessem que Dilma é igual a seus algozes. Mas, como vemos, tampouco essa esquerda antipetista se diferencia deles.

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