A herança progressista que as administrações do PT
deixaram na esfera legislativa tem sido aos poucos anulada pelo Congresso
Nacional. Um novo paradigma legal para os direitos individuais está em processo
de gestação, ameaçando impor ao país uma agenda fundada no obscurantismo e na
intolerância.
O dano materializa-se através do oportunismo das
lideranças conservadoras, que aproveitam o endosso do inclassificável Eduardo Cunha e a inabilidade da base governista para contaminar os projetos em
tramitação. Como são medidas que interessam aos lobbies privados, fica fácil
aglutinar a maioria fisiológica.
Mas o fenômeno tem origem fora dos meandros parlamentares.
Toda a estrutura viciada que dá poderes supremos a Cunha e incentiva a
descarada traição dos supostos aliados do Planalto se alimenta do fantasma da
crise político-econômica. A tal narrativa da catástrofe, elaborada
sistematicamente desde a eleição de Dilma Rousseff.
A estratégia culminou no movimento pelo impeachment
e nas passeatas promovidas pela imprensa corporativa. O empresariado usou seu
poder de mobilização para impedir que Dilma guinasse à esquerda buscando apoio
popular. O eco de 1964 fez a presidenta escolher o distanciamento moderado. Ou,
se preferirem, a inação.
A função imediata dos protestos era sepultar
algumas ideias que atingiam a mídia e vinham amadurecendo há anos, como a do
marco regulatório das comunicações. Mas os porta-vozes da elite financeira
rapidamente incluíram na chantagem quaisquer medidas socialmente igualitárias
para combater o déficit das contas públicas.
Nasceu então o discurso esquizofrênico do
catastrofismo partidarizado, que só aceita as soluções que destroem as marcas dos
governos Lula-Dilma. Todo gesto para preservar o programa referendado pelas
urnas vira um estopim de confronto. E evitá-lo inclui aceitar as excrescências
legislativas das bancadas reacionárias.
Fica evidente, portanto, que a escalada
conservadora não é mero efeito da conturbação política, mas o seu verdadeiro
objetivo. A propaganda apocalíptica e as ameaças de impeachment querem apenas
viabilizar o retrocesso. Quanto mais fracassam nas suas intenções professadas,
mais se aproximam da vitória naquilo que realmente almejam.
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