Um evento divulgado em todos os veículos de comunicação, financiado por grandes empresários e favorecido pelas autoridades públicas, precisa reunir quantas pessoas para ser considerado bem-sucedido? Três por cento dos paulistanos é proporção relevante? Um por cento dos cariocas e belo-horizontinos? Fração semelhante do eleitorado nacional?
Cada setor responderá a essas perguntas segundo seus interesses. Mas acho importante contextualizarmos o fenômeno, questionando a imanência positiva e vitoriosa que se tenta construir em torno dele.
Cada setor responderá a essas perguntas segundo seus interesses. Mas acho importante contextualizarmos o fenômeno, questionando a imanência positiva e vitoriosa que se tenta construir em torno dele.
Apesar da força de algumas imagens, as
manifestações da direita foram até modestas em termos globais. As pretensões
grandiosas e o imenso aporte de recursos (talvez inédito em atos públicos no
Brasil) deveriam atrair multidões maiores e mais heterogêneas, especialmente
nos centros urbanos fora do Sudeste.
Dizer que estes protestos suplantaram os
anteriores não explica nada, pois o esforço para insuflá-los foi igualmente
redobrado. A coincidência de causa e efeito apenas comprova que o movimento
golpista depende de estímulos generosos e que nem eles conseguem romper certas barreiras sociais e regionais.
A narrativa do “sucesso” das manifestações não
sobrevive a uma ponderação de custo-benefício. Basta calcular em cotas
publicitárias o espaço e o tempo dedicados pela mídia à promoção direta ou
indireta das passeatas. E os gastos na infraestrutura
utilizada. E o empenho de promotores e juízes para suprir a campanha de conteúdo
incitativo. Tudo isso atingiu quais resultados práticos?
Nem o governo cairá tão cedo, nem os corruptos
serão condenados, nem a caça a Lula deixará de ser arbitrária e tendenciosa. O
máximo que as manifestações conseguiram foi alimentar a sanha fisiológica do
PMDB e adiar o pacto pela governabilidade. Ou seria essa a verdadeira intenção
dos organizadores?
Claro que não podemos subestimar os novos desfiles do Orgulho Reacionário. Mas eles não representam todas as forças populares
mobilizadas e tampouco antecipam o encerramento da disputa em curso. As
próximas manifestações da esquerda romperão a narrativa eufórica do golpe e recolocarão
as coisas na devida perspectiva.
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