Publicado no Observatório da Imprensa
A tentativa de aniquilar o Ministério da Cultura, os
expurgos na Empresa Brasil de Comunicação e as intervenções do governo interino
em órgãos científicos são reflexos administrativos de um fenômeno mais amplo. Seja
por ações judiciais, seja em textos na mídia tradicional e na internet,
multiplicam-se investidas cerceadoras ou difamatórias contra acadêmicos,
artistas e jornalistas considerados “de esquerda”.
O problema não tem nada a ver com os méritos da isenção fiscal à Cultura e outras pautas oportunistas. Argumentos grotescos do
tipo “mamar nas tetas do Estado” servem apenas para destilar o pseudoliberalismo
de botequim que embala o orgulho reacionário. Na época da Guerra Fria falava-se
em estar “a soldo de Moscou”.
A fobia anti-intelectual é velha como o fascismo.
Ela nasce na aversão à criatividade e ao espírito crítico, valores provocativos
e libertários por natureza. A arte, o humor e a análise ofendem o autoritarismo
porque atuam em esferas nas quais a força coercitiva, econômica ou física, não
possui eficácia total.
E existe o perigo da visibilidade. Uma pessoa
famosa denunciando o golpe diante da imprensa mundial destroi meses de
propaganda partidária do jornalismo brasileiro. Não há manipulação que sobreviva
ao apelo emocional de um ídolo gestado no próprio sistema de legitimação do
veículo manipulador.
Daí o esforço de neutralizar essas potências com
ilações sobre o uso de recursos estatais ou afinidades partidárias. A exigência
de uma isenção impossível, desprezada em todos os campos de estudo, serve para
desautorizar justamente as pessoas que combatem a mentira do apartidarismo no
Judiciário e na imprensa. Maliciosa inversão: usa-se o veneno para destruir seu
antídoto.
O espírito vingativo e
intolerante fornece um amálgama ideológico para as diversas facções institucionais envolvidas no impeachment de Dilma Rousseff. Mas seria ingênuo
ver aí apenas um subproduto espontâneo do antipetismo histérico. O fenômeno ganhou
tamanha ressonância que pode se transformar em instrumento coercitivo.
Os ataques a intelectuais visam impedi-los de
participar na construção das narrativas históricas sobre este momento do país. Silenciando
as versões antagônicas, a direita pretende institucionalizar sua memória
salvacionista, usando o discurso homogêneo do noticiário como legado de uma
falsa unanimidade em torno das disputas políticas.
E é exatamente porque a moda obscurantista
vincula-se a um projeto de poder que os intelectuais não podem cair na armadilha
da despolitização legitimadora. Quanto mais agressivos forem os adeptos do
discurso único, maior o estímulo para combatê-los com a afronta da resistência
militante.
2 comentários:
Colunista tem toda razão .A pressão é tanta que hoje foi deflagrada a operação boca livre para examinar o desvio de 140 milhões de reais. Como diz o colunista é um absurdo afirmar que mamaram nas tetas de viúva. ahahahahahahahahahahaha
Anônimo, ao confundir artista com bandido você apenas reproduz um dos mais desgastados, rasteiros e preconceituosos argumentos da fobia anti-intelectual. Ahahahaha para você também.
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