Tenho visão em geral positiva sobre megaeventos esportivos
realizados no Brasil. Gosto da experiência e do transe civilizatório que ela
provoca. E dou enorme importância aos ganhos educativos, culturais e econômicos
do turismo que essas efemérides incentivam.
Não acho que faltem problemas, muitíssimo pelo
contrário. Refuto certas críticas por causa dos seus argumentos frágeis, omissos
e distorcidos. Aconteceu na Copa e, de maneira previsível e patética, se repete
agora, nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.
As comparações seletivas são ridículas. Deixando de mencionar, por exemplo, que em Londres houve conflitos de rua, instalações improvisadas,
desorganização e falhas de segurança. Por que buscar paralelos na Rússia e na
Grécia, mas ignorar os britânicos?
Outra besteira é o viés generalizante dado ao “desastre”
dos Jogos brasileiros. Esse tom negativo engloba de maneira homogênea um empreendimento
complexo, que possui múltiplos aspectos e possibilidades de abordagem.
Inclusive o ufanismo hipócrita que serve de contraponto para justificar o
extremo catastrofista, igualmente superficial.
A obsessão com “legados” chega a soar divertida. É
como se os Jogos, num passe de mágica, devessem corrigir décadas de
incompetência e descaso administrativo. Eventos privados não existem para
substituir governos. As promessas irreais fazem parte da própria engrenagem que
as tornou necessárias (e possíveis) em primeiro lugar.
A paranoia coletiva com o “dinheiro público”
despreza o fato de as carências brasileiras se deverem à má gestão das verbas
estatais, e não ao aporte investido. E aqui a relação custo-benefício é
ardilosa, pois envolve os ditos “legados imateriais”, de difícil aferição. Duvido
que qualquer evento patrocinado por governos, independente da área, sobreviva à
contabilidade simplista que se costuma aplicar aos Jogos Olímpicos.
Nem vale a pena começar um debate sobre se “o
Brasil merece” os Jogos. Esse tipo de viralatice pacóvia serve apenas para
evitar que empresas e pessoas sejam denunciadas individual e nominalmente por
suas trapalhadas. É mais cômodo e lucrativo demonizar a população do que mexer
com anunciantes, amigos de chefes e aliados de golpistas.
Os países considerados “merecedores” dos Jogos não
toleram análises depreciativas como as que seus veículos espalham sobre o
Brasil, menos ainda se cometidas por estrangeiros. Os analistas brasileiros jamais
ousariam manchar a imagem de uma cidade europeia ou norte-americana, alertando
os viajantes sobre o risco de atentados, racismo, xenofobia, etc. E não sairia no New York Times.
Tudo se resume ao provincianismo tolo, essa
vergonha de ser brasileiro que virou uma espécie de prerrogativa moral do
ressentimento conservador. O mal dissimulado gozo com a desventura de cariocas,
turistas e atletas revela o que há de pior na cultura atrasada que ameaça
tornar-se hegemônica na mídia e na política do país.
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