terça-feira, 2 de agosto de 2016

Em busca da catástrofe olímpica


















Tenho visão em geral positiva sobre megaeventos esportivos realizados no Brasil. Gosto da experiência e do transe civilizatório que ela provoca. E dou enorme importância aos ganhos educativos, culturais e econômicos do turismo que essas efemérides incentivam.

Não acho que faltem problemas, muitíssimo pelo contrário. Refuto certas críticas por causa dos seus argumentos frágeis, omissos e distorcidos. Aconteceu na Copa e, de maneira previsível e patética, se repete agora, nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.

As comparações seletivas são ridículas. Deixando de mencionar, por exemplo, que em Londres houve conflitos de rua, instalações improvisadas, desorganização e falhas de segurança. Por que buscar paralelos na Rússia e na Grécia, mas ignorar os britânicos?
                                                                                                                                             
Outra besteira é o viés generalizante dado ao “desastre” dos Jogos brasileiros. Esse tom negativo engloba de maneira homogênea um empreendimento complexo, que possui múltiplos aspectos e possibilidades de abordagem. Inclusive o ufanismo hipócrita que serve de contraponto para justificar o extremo catastrofista, igualmente superficial.

A obsessão com “legados” chega a soar divertida. É como se os Jogos, num passe de mágica, devessem corrigir décadas de incompetência e descaso administrativo. Eventos privados não existem para substituir governos. As promessas irreais fazem parte da própria engrenagem que as tornou necessárias (e possíveis) em primeiro lugar.

A paranoia coletiva com o “dinheiro público” despreza o fato de as carências brasileiras se deverem à má gestão das verbas estatais, e não ao aporte investido. E aqui a relação custo-benefício é ardilosa, pois envolve os ditos “legados imateriais”, de difícil aferição. Duvido que qualquer evento patrocinado por governos, independente da área, sobreviva à contabilidade simplista que se costuma aplicar aos Jogos Olímpicos.

Nem vale a pena começar um debate sobre se “o Brasil merece” os Jogos. Esse tipo de viralatice pacóvia serve apenas para evitar que empresas e pessoas sejam denunciadas individual e nominalmente por suas trapalhadas. É mais cômodo e lucrativo demonizar a população do que mexer com anunciantes, amigos de chefes e aliados de golpistas.

Os países considerados “merecedores” dos Jogos não toleram análises depreciativas como as que seus veículos espalham sobre o Brasil, menos ainda se cometidas por estrangeiros. Os analistas brasileiros jamais ousariam manchar a imagem de uma cidade europeia ou norte-americana, alertando os viajantes sobre o risco de atentados, racismo, xenofobia, etc. E não sairia no New York Times.

Tudo se resume ao provincianismo tolo, essa vergonha de ser brasileiro que virou uma espécie de prerrogativa moral do ressentimento conservador. O mal dissimulado gozo com a desventura de cariocas, turistas e atletas revela o que há de pior na cultura atrasada que ameaça tornar-se hegemônica na mídia e na política do país.

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