Introdução
Os equívocos administrativos dos governos Dilma Rousseff são
insuficientes para explicar o sucesso do golpe. Os péssimos índices
sócio-econômicos, a corrupção e a impopularidade não abreviaram os mandatos de José
Sarney e FHC, por exemplo.
A associação dos fracassos gerenciais de Dilma com a queda
visa dar a esta um verniz meritório, criando pretextos para a negociata que os
golpistas apelidaram “julgamento político”. A responsabilização da vítima esconde
suas tentativas de resistência e, acima de tudo, os esforços sistemáticos da
mídia, do Judiciário e do Congresso para sabotá-las.
A viabilização do golpe se deu no âmbito estratégico. O impeachment
representou uma confluência de elementos que foram se articulando ao longo dos
últimos três ou quatro anos, nem sempre de forma planejada, mas partindo de
setores com o mesmo interesse.
Nesse sentido o governo petista contribuiu com a própria
tragédia, como um jogador que planeja mal seus movimentos e subestima as
manobras adversárias. Isso diz respeito a uma esfera pragmática da atividade
política, onde ideais, plataformas e mesmo realizações ocupam lugar lamentavelmente
secundário.
Por ingenuidade, cinismo ou pura preguiça, os
comentaristas midiáticos ignoram esse ambiente. Mas evitar a face espinhosa do
impeachment leva a um idealismo alienante, que enxerga pressupostos no lugar de
fatos, pessoas e instituições. Eis porque alguns progressistas e conservadores parecem
ter visões tão semelhantes sobre o fenômeno.
Nas próximas semanas abordarei a consecução do golpe sob
as óticas político-partidária, social, jurídica, econômica e midiática, com um
epílogo perspectivo. Não pretendo esgotar os assuntos, nem mesmo
desenvolvê-los, e sim propor um rol de questões que julgo merecerem figurar nos
futuros debates historiográficos.
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