segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Balanço do golpe II













A base parlamentar

A causa direta do golpe foi o desmoronamento do apoio a Dilma Rousseff no Congresso Nacional. O desgaste começou com o fracassado projeto de criar um “centrão” via PSD, ganhou cores vingativas após a chegada de Eduardo Cunha à presidência da Câmara e virou conspiração quando Michel Temer o substituiu no comando dos insatisfeitos.

Politicamente inapta, inflexível e mal assessorada, Dilma não soube (e em boa medida não quis) aplacar as pressões do fisiologismo. Suas concessões programáticas pouco aliviaram o problema, pois a aparência entreguista dos ministérios tenebrosos escondia uma relação esquizofrênica e autodestrutiva com as bases partidárias.

O triunfo reativo do pemedebismo ilustra os limites dessa ideia de governabilidade imanente, capaz de seduzir o baixo clero e as lideranças regionais com brioches burocráticos. Uma ingenuidade compartilhada pela esquerda antipetista, Marina Silva inclusa, que finge não ver os obstáculos intransponíveis a seu purismo retórico.

As manifestações pró-impeachment, o catastrofismo econômico e as ameaças cirúrgicas da Lava Jato criaram ambiente propício à debandada parlamentar. Mas as animosidades poderiam ter sido contidas, ao menos em curto prazo, através de boas articulações envolvendo os interesses eleitorais que dominaram o ano legislativo.

Cunha e Temer usaram tais demandas para canalizar os ânimos revoltos. Divulgando manifestações que o aproximavam do cargo presidencial, Temer empoderou-se como “pacificador” da base. Seu único obstáculo seria a entrada de Lula no governo. Tão logo isso ficou evidente, vazaram ilegalmente as gravações já ilegais de Sérgio Moro.

O impeachment foi um golpe parlamentar tradicional, quase ortodoxo na sua simplicidade. O esforço para naturalizá-lo (“é do jogo”) não o legitima, pelo contrário. Apenas destaca a sua importância como dispositivo de autopreservação de uma estrutura antidemocrática por natureza.


A série "Balanço do golpe":

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