A base parlamentar
A causa direta do golpe foi o desmoronamento do
apoio a Dilma Rousseff no Congresso Nacional. O desgaste começou com o fracassado
projeto de criar um “centrão” via PSD, ganhou cores vingativas após a chegada de
Eduardo Cunha à presidência da Câmara e virou conspiração quando Michel Temer o
substituiu no comando dos insatisfeitos.
Politicamente inapta, inflexível e mal
assessorada, Dilma não soube (e em boa medida não quis) aplacar as pressões do
fisiologismo. Suas concessões programáticas pouco aliviaram o problema, pois a aparência
entreguista dos ministérios tenebrosos escondia uma relação esquizofrênica e
autodestrutiva com as bases partidárias.
O triunfo reativo do pemedebismo ilustra os
limites dessa ideia de governabilidade imanente, capaz de seduzir o baixo clero
e as lideranças regionais com brioches burocráticos. Uma ingenuidade compartilhada
pela esquerda antipetista, Marina Silva inclusa, que finge não ver os
obstáculos intransponíveis a seu purismo retórico.
As manifestações pró-impeachment, o catastrofismo
econômico e as ameaças cirúrgicas da Lava Jato criaram ambiente propício à
debandada parlamentar. Mas as animosidades poderiam ter sido contidas, ao menos
em curto prazo, através de boas articulações envolvendo os interesses
eleitorais que dominaram o ano legislativo.
Cunha e Temer usaram tais demandas para canalizar os
ânimos revoltos. Divulgando manifestações que o aproximavam do cargo
presidencial, Temer empoderou-se como “pacificador” da base. Seu único
obstáculo seria a entrada de Lula no governo. Tão logo isso ficou evidente, vazaram
ilegalmente as gravações já ilegais de Sérgio Moro.
O impeachment foi um golpe parlamentar tradicional,
quase ortodoxo na sua simplicidade. O esforço para naturalizá-lo (“é do jogo”)
não o legitima, pelo contrário. Apenas destaca a sua importância como
dispositivo de autopreservação de uma estrutura antidemocrática por natureza.
A série "Balanço do golpe":
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