segunda-feira, 23 de março de 2015

O cansaço e o panelaço

 

Quanto mais observo as imagens das manifestações de 15 de março, mais me parece evidente a homogeneidade social, talvez até mesmo étnica, do fenômeno. Seria leviano afirmar que os presentes eram apenas eleitores do PSDB, brancos ou “burgueses”. Mas fica impossível generalizar em sentido contrário, isto é, dizer que os atos espelharam proporcionalmente a sociedade brasileira.

Não quero dizer que as classes menos favorecidas estejam felizes com Dilma Rousseff, mas apenas que elas não encontram representação no movimento. O dado possui implicações políticas relevantes, inclusive quanto aos objetivos da revolta. Um inimigo do assistencialismo estatal e um beneficiário dos seus programas podem ter razões bem diversas para reclamar do mesmo governo.

A grande marca identitária dos protestos atuais é o ressentimento moralista contra a classe política. Ele só envolve a melhoria das condições de vida da população de maneira indireta e hipotética. A pauta do combate à corrupção ganha aqui um claro viés elitista, independente da origem de quem a defende, pois exige mudanças conservadoras do ponto de vista da desigualdade social.

A prisão de executivos e políticos não resolve os imensos problemas que atingem os trabalhadores (falta d’água, por exemplo) e, como observamos no caso Petrobrás, pode até agravar esses problemas se conduzida de maneira irresponsável. O desejo punitivo e a solidariedade possuem naturezas e consequências distintas, amiúde inconciliáveis.

Isso deveria ser levado mais a sério por certos analistas, que comemoram as passeatas como se tivessem uma essência positiva e transformadora. Não faz sentido, para quem ridicularizou aqueles primeiros gestos isolados do Cansei, aplaudir depois a sua temerária apoteose.

3 comentários:

Pedro Mundim disse...

Nenhuma manifestação pública espelha proporcionalmente a sociedade brasileira, nem é esperado que o fizesse, pois manifestações são convocadas geralmente por organizações classistas e atiçadas por algum acontecimento que a princípio só incomoda determinado grupo de pessoas - e nenhum grupo é majoritário, seja a classe média urbana, os sem-terra, os sem-teto, os petroleiros, os metalúrgicos, os gays e lésbicas, etc.

Assim, se todos esses grupos que citei acima podem fazer suas manifestações, a classe média urbana e geralmente branca também pode. Os representantes desta classe foram maioria porque, como você corretamente apontou, a marca identitária do protesto foi o ressentimento moralista - e como é a classe média quem paga impostos diretos, ela se sente pessoalmente roubada. Diferente das massas assistidas, que não têm rendimento para entrar na alíquota mínima do imposto de renda, então não pagam impostos diretos, e por conseguinte não se sentem pessoalmente lesadas com a corrupção dos políticos - afinal, não saiu do bolso deles. É notório que quase todos os políticos cassados no passado por corrupção voltaram à cena em pouco tempo, às vezes reeleitos com número de votos ainda maior do que tinham antes, por obra dessa massa de eleitores pobres que não se importa com a corrupção, desde que valha o Rouba Mas Faz. A massa só não tolera o Rouba E Não Faz.

Portanto, é injunção maldosa afirmar que os manifestantes estavam lá para protestar contra o assistencialismo que é prestado aos pobres - sofisma que procura rumar para a conclusão de que a posição destes seria diametralmente oposta à posição dos pobres. Quase sempre aquilo que prejudica a classe média prejudica também aos pobres, ainda que não de imediato: por exemplo, o dinheiro roubado pelos ladrões do petrolão não saiu do bolso dos pobres, mas os efeitos dessa roubalheira na economia inevitavelmente causarão prejuízo a todos. Uma vez que o objetivo de todo trabalhador pobre é ascender à classe média, é uma enorme falta de discernimento que esse indivíduo volte-se contra esta classe, pois assim fazendo estará sabotando seu futuro, dando um tiro no próprio pé. Esse discurso só pode ser repetido por quem quer promover a luta de classes de forma inconsequente.

Em tempo: é claro que a prisão de executivos e políticos não resolve os imensos problemas que atingem os trabalhadores. Mas faltou dizer: tampouco é função de policiais e juízes resolvê-los. Em um verdadeiro Estado de Direito, as prisões não são motivadas pelo desejo punitivo, nem são relaxadas em razão da simpatia e da solidariedade, mas seguem friamente a letra da lei. É o que está acontecendo. Esse discurso só pode ser repetido por quem deseja a substituição do Estado de Direito pela ditadura da maioria.

Unknown disse...

Pedro Mundim, pelo menos concordamos acerca da composição social dos protestos. Já as divergências, abordo-as por tópicos:
1) Não afirmei que "os manifestantes estavam lá para protestar contra o assistencialismo", mas que o descontentamento de pobres e ricos tem natureza e consequências diversas.
2) A luta de classes existe independente das nossas opiniões a respeito.
3) É o trabalho das tais "massas assistidas" que gera o excedente de onde a classe média tira o valor dos impostos. Que incidem sobre os produtos consumidos pelos trabalhadores e, portanto, são pagos por eles também.
4) O Judiciário jamais seguiu "friamente a letra da lei" e não está seguindo agora.
5) A solidariedade que eu menciono não deveria ser dirigida a executivos e políticos, mas aos pobres. E ela está ausente das reivindicações dos protestos.
Obrigado pelo comentário.
Abraço do
Guilherme

leonardo marques arnaldo disse...

Isso aí tem nome e sobtrenome: EUA-PIG! eles querem de qualquer jeito nosso pré sal. e como temos uma midia vendida e alinhada com os interesses dos Estados Unidos, que se dane o Brasil!