Publicado no Brasil 247
Causou ampla estranheza a maneira precipitada e
ilegal com que o ataque a Lula foi executado. Por que encenar aquele ridículo
teatro de guerra, escancarando as irregularidades da ação? Por que não
prenderam o petista de uma vez, já que as suspeitas contra ele supostamente justificavam
a própria iniciativa de acossá-lo?
Existiu um fator oportunista na origem do abuso. A
Polícia Federal quis reagir à troca do ministro da Justiça. Os procuradores temiam
o julgamento do STF sobre seus limites. A Rede Globo precisava de um factóide
para reverter a desmoralização inédita, sintomaticamente agravada pela torcida corintiana. E todos estão unidos na propaganda das manifestações golpistas, que
andaram meio desmoralizadas.
O fato é que Sérgio Moro, cedendo às urgências dos
aliados, evidenciou a fragilidade dos elementos acusatórios contra Lula. Naquelas
circunstâncias, o mais leve indício de culpa lhe teria rendido um mandado de
prisão, no mínimo para salvar a imagem da pantomima policialesca. Um réu
potencial jamais ganharia visibilidade gratuita na mídia e a chance de se
apresentar como vítima de perseguição.
A repercussão negativa do episódio marca uma nova
etapa do conluio institucional que se esconde sob o rótulo de “operação Lava
Jato”. Agora, se Lula não for condenado, alcançará uma vitória de efeitos eleitorais inevitáveis. A caça ao petista se transforma então num fenômeno
essencialmente midiático, onde a falta de provas ocupará lugar secundário, mera
demonstração de habilidade para o ardil criminoso.
Trata-se de minar a imagem do ex-presidente,
convencendo a opinião pública, e as cortes em particular, de que puni-lo é um
dever cívico e republicano. Uma questão de crença, portanto, e não de rigor técnico.
Chamar os advogados de Lula de “a sua defesa”, como se ele respondesse a algum
processo, constitui exemplo trivial da artimanha no meio jornalístico, de resto
escancarada pelo tom emotivo dos noticiários.
É fácil perceber a força dessa narrativa. Em
diversas esferas de discussão equilibrada já aparecem lamentos sobre a índole
corrupta de Lula, sem quaisquer dados factuais que a comprovem. Pedalinhos e
palestras podem não colar, mas a aura delituosa permanece: “não sei por que
Lula deve ser preso, mas ele certamente sabe”.
Concentra-se aí o novo foco estratégico dos
golpistas. Já indiferentes às paixões das ruas, eles precisam garantir apoio ao
ritual sacrificatório de Lula, que virou uma questão de honra para os
acusadores. O deslize afoito de Moro ecoou mal nos setores moderados do campo
jurídico, sem afinidades com a esquerda mas sensíveis a infrações e
hipocrisias. Esse é o público-alvo do massacre publicitário que se inicia.
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