Publicado no Brasil 247
Os defensores do impeachment passaram meses
tentando enquadrar Dilma Rousseff em purismos jurídicos e administrativos.
Mesmo forçando a retórica legalista, porém, seus argumentos continuaram parecendo
ridículos diante do que ocorre em todas as esferas de gestão pública do país. E
não estamos falando de simples “pedaladas”.
As listas possíveis são abundantes. O prefeito de
Campinas (SP), por exemplo, tinha um assessor ligado à organização criminosa PCC. Geraldo Alckmin abrigou em seus governos os famosos cartéis metroviários e
a máfia das merendas escolares. E o infame Eduardo Cunha, grudado na
presidência da Câmara, coleciona suspeitas graves.
Enfim, qualquer esforço comparativo desmoraliza o
pretexto ético do impeachment. Por isso os oposicionistas tentam justificar a
impugnação do mandato de Dilma apenas com o fato da Constituição prever o
recurso. Não se trata de golpe, asseguram, já que obedece às normas vigentes e
transcorre sob os auspícios do Supremo Tribunal Federal.
Mentira. Pelas normas constitucionais, o
afastamento de Dilma só seria legítimo estando provado que ela cometeu crime de
responsabilidade. O endosso do STF à deposição se resume a essa exigência. E
tudo que os acusadores conseguem com suas interpretações elásticas da lei é
realçar a insensatez de aplicá-las seletivamente.
Os sabujos então buscam digerir o obstáculo usando
a natureza “política” do escrutínio. Já não importa a falta de provas, de
equilíbrio e de coerência: os congressistas ganharam o dom mágico de validar o
golpe simplesmente aprovando-o.
O fisiologismo parlamentar dá fachada
representativa ao ardil conspiratório, suprindo o vácuo de premissas legais com
uma liturgia pseudodemocrática movida a chantagens. A ideia de “justiça” que
restou à oposição é um ritual de traições oportunistas encenado por suspeitos
de crimes, com o propósito de blindar as respectivas impunidades.
Os adeptos do impeachment transferem às
consciências alheias o peso de uma vergonha que eles não conseguiram purgar na
reedição das verborragias salvacionistas de 1964. A falta de escrúpulos do
Legislativo, sempre tão criticada pelos apologistas do Judiciário, virou o
último refúgio do golpismo constrangido.
Só que existe um problema em associar as
negociatas dos parlamentares à “normalidade democrática”. Seus defensores têm
agora a obrigação moral de aceitar os resultados, mesmo que favoráveis a Dilma.
Caso contrário, precisariam negar a própria bandeira republicana que hoje
abraçam como álibi para desígnios inconfessáveis.
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