Os grampos ilegais de Sérgio Moro e seus arapongas
provocaram uma onda de moderação e zelo na mídia corporativa. Editoriais e
artigos correram defender que as investigações da Lava Jato fossem pautadas
pela prudência e pelo respeito à legalidade.
Na maioria dos casos, os autores desses textos não
passam no teste da coerência: eles apoiaram alegremente a escalada arbitrária de Moro e da Polícia Federal. Foi sua longeva cumplicidade que alimentou o
monstro da espionagem criminosa.
Isso fica evidente nas próprias reações aos abusos.
Em vez de tratá-los como os crimes que são, os comentaristas usam eufemismos suaves
do tipo “deslizes”, “polêmicos”, “trapalhadas”. E, pior, sugerem que não afetam
a natureza republicana da Lava Jato.
Os neolegalistas deixaram as coisas chegarem a um
ponto irremediável para fingir que o desaprovam. Diante do fato consumado, tratam
de limpar suas reputações das manchas que denunciarão os artífices do futuro
sombrio que se anuncia.
O último capítulo dessa reforma póstuma de imagem
é lamentar que o golpe do impeachment favoreça conspiradores sujos e malvados.
Oh, Eduardo Cunha será o vice-presidente! Oh, Temer negocia a própria
impunidade! Oh, a Lava Jato vai acabar!
Claro, todos conheciam esses riscos há meses. Chegaram
mesmo a dizer que eram criações do governismo aloprado. Agora aparecem repentinamente
chocados com as trágicas consequências de uma farsa da qual eles mesmos foram ativos apologistas.
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