Dá para imaginar o escândalo que haveria se o juiz
Sérgio Moro e os procuradores da Lava Jato fizessem cursos e reuniões na Rússia
ou na Venezuela antes de arrasarem a Petrobras. Gigantes petrolíferos ajudando
a destruir a concorrência brasileira? Então. Com os EUA é “cooperação
internacional”.
Espionagem? Conspiração? Depende da maneira como
definimos tais atividades. Ou melhor, do grau de credulidade que abraçamos para
embalar nossa ilusão de autonomia e segurança. Quase toda ação escusa tem uma
fachada legítima que satisfaz os ingênuos.
Claro, soa insensato embaralhar os verdadeiros deslizes éticos de Moro com suspeitas afins. No imaginário diplomático, ele
seria um péssimo candidato à cooptação. Além de excessivamente visado, nutre
visão messiânica e idealista do seu papel. E tem motivações ideológicas já
alinhadas à agenda estadunidense.
Ao mesmo tempo, é muita ingenuidade ignorar os
elos geopolíticos da desmoralização de algumas das maiores empresas do país,
com negócios planetários em áreas estratégicas para as potências financeiras. E
é simplesmente estúpido achar que desmontes desse tipo são fenômenos gratuitos
no inescrupuloso universo do empresariado transnacional.
Podemos até acreditar que a Lava Jato serve
“apenas” como instrumento manipulado por interesses poderosos, em troca do seu
próprio sucesso no âmbito doméstico. O problema está no pacote de versões
oficiais, bem menos convincentes, que dão suporte à hipotética inocência dos
nossos berlusconis.
Por exemplo, a tese de que o profissionalismo, a
força material e o respaldo midiático do movimento pelo impeachment nasceram de
ações espontâneas e desarticuladas, embora seus líderes tenham ligações com
obscuras companhias norte-americanas. Também a de que o cargo de ministro das
Relações Exteriores de José Serra não tem nada a ver com seu projeto que abre o
pré-sal à exploração estrangeira. Ou com os policiais federais que vazaram os
sigilos da Lava Jato.
Será que as teorias conspiratórias nascem da
quantidade de coincidências estranhas em torno do mesmo fenômeno, ou do desprezo
geral por esses sinais? Precisaríamos mesmo de documentos governamentais para saber
que os EUA participaram do golpe militar de 1964? Sem o Wikileaks ninguém
imaginaria que a Casa Branca espiona mensagens eletrônicas de governos,
empresas e cidadãos?
A lista dessas “descobertas” tardias ocuparia
compêndios. As nódoas comuns a todos os seus episódios são a covardia da
imprensa dita investigativa e o descrédito público dos paranoicos que levantaram
as perguntas que ninguém ousava formular.
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