sexta-feira, 16 de setembro de 2016

“Aquarius”

 

É evidente a segurança estilística de Kleber Mendonça Filho. Sua encenação meticulosa, que especulo ter algo de “fenomenológica”, deixa sempre algo a descobrir nas sutilezas do texto, nas nuances dramáticas, nos símbolos.

O título também é aberto a interpretações. Pode remeter ironicamente ao espírito libertário e igualitário hippie, mas também ao musical “Hair”, que Sônia Braga interpretou no Brasil. E por aí vai.

Metáforas fortes em torno do corpo (a doença, o prédio, o envelhecimento, a nudez explícita, a escatologia), reforçadas pela canção de Taiguara. Interessantes contrapontos entre as complexas personagens femininas, expondo conflitos de geração, mas também de perspectiva social. Todas saudosistas, parece, e melancólicas.

Algumas características de “O Som ao redor” se renovam. O ritmo contemplativo. A divisão em capítulos. A selvageria de certas elites oligárquicas. O caráter ambíguo dos tipos, que impede empatias fáceis. E, talvez, a indefinição genérica, unindo elementos de drama, suspense, terror.

Elevando o filme a sucesso comercial, as sabotagens do governo ilegítimo criaram uma expectativa que pode frustrar quem espera convenções narrativas e didatismos. Mas, à parte o provincianismo da discussão sobre o Oscar, tem o mérito de atrapalhar consensos sobre o cinema e o país.

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