É evidente a segurança estilística de Kleber
Mendonça Filho. Sua encenação meticulosa, que especulo ter algo de
“fenomenológica”, deixa sempre algo a descobrir nas sutilezas do texto, nas
nuances dramáticas, nos símbolos.
O título também é aberto a interpretações. Pode
remeter ironicamente ao espírito libertário e igualitário hippie, mas também ao
musical “Hair”, que Sônia Braga interpretou no Brasil. E por aí vai.
Metáforas fortes em torno do corpo (a doença, o
prédio, o envelhecimento, a nudez explícita, a escatologia), reforçadas pela
canção de Taiguara. Interessantes contrapontos entre as complexas personagens
femininas, expondo conflitos de geração, mas também de perspectiva social. Todas
saudosistas, parece, e melancólicas.
Algumas características de “O Som ao redor” se renovam.
O ritmo contemplativo. A divisão em capítulos. A selvageria de certas elites
oligárquicas. O caráter ambíguo dos tipos, que impede empatias fáceis. E,
talvez, a indefinição genérica, unindo elementos de drama, suspense, terror.
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