segunda-feira, 13 de março de 2017

Sobre a união das esquerdas



No cenário eleitoral de 2018, há dois setores relevantes do campo progressista: os grupos que orbitam ao redor de Lula e aqueles antipáticos à sua proeminência. Ambos os flancos são inconciliáveis, pois têm como diferencial privilegiado a figura do ex-presidente e as posturas antagônicas que ele provoca.

Essas divergências espelham narrativas opostas sobre fenômenos decisivos da política brasileira recente. Uma delas envolve a natureza golpista do impeachment e o papel do PT no processo. Outra, a ideologização do Judiciário e as “excepcionalidades” da Lava Jato, incluindo o justiciamento ideológico de Lula.

O conflito de versões é inevitável, assim como a cizânia resultante. A esquerda antipetista vê tantas dificuldades em se afastar dos seus apoios velados ao golpe e aos inquisidores judiciais quanto o PT em coadunar com as forças que tentam destruí-lo. Especialmente porque a discórdia está inserida numa dinâmica de responsabilização mútua pela tragédia administrativa e moral que acomete o Poder Executivo.

Mas o problema tem seu lado estratégico. Depois das derrotas municipais e diante da absurda falta de quadros, o PT jamais poderia abrir mão de uma candidatura que as estatísticas apontam como a mais forte da esquerda, senão de todo o espectro partidário. Mesmo não encabeçando a chapa, Lula desfruta de uma popularidade que lhe confere status natural de liderança articuladora no seu círculo de influência.

Já os demais partidos do espectro usam esse antagonista simbólico para resguardar a sua identidade programática, mergulhada em profunda crise representativa. A Rede teve quase o mesmo número de votos, no país todo, que Fernando Haddad na capital paulista. O PSOL nacional perdeu para João Doria. Marcelo Freixo para si mesmo, em 2012. Pouco resta às legendas senão evitar um confronto direto com o antipetismo que dominou os programas conservadores vitoriosos. Ou até adotá-lo.

As pesquisas sobre 2018 sugerem que esse afastamento será fundamental para levar a dissidência progressista ao segundo turno. O desafio exige o enfraquecimento da candidatura associada ao lulismo e a sedução de fatias descontentes do seu eleitorado. O embate interessa também ao PT, que prefere mil vezes polarizar com um adversário abertamente conservador na fase derradeira.

É inútil, portanto, esperar uma aproximação que não agrada a nenhuma das partes envolvidas. E que, sejamos honestos, apenas manteria a esquerda isolada, internamente dispersa em altercações ressentidas e centralizando ataques de todos os outros flancos. A divisão aumentará a diversidade dos questionamentos ao governo Temer, talvez resultando mais danosa à direita do que um bloco frágil e estigmatizado.

Se quiserem mesmo posar de pragmáticas e expeditas, as alas progressistas podem selar um acordo pluripartidário informal, para coordenar estratégias que levem os seus membros ao máximo de cadeiras no Congresso, sem confrontos inúteis, tendo como inimigo comum o pemedebismo fisiológico. Já seria um grande avanço, e talvez o mais urgente na atual conjuntura.

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